Mesas Redondas

Fotografia de Diana P. G. Mateus


Mesas Redondas

Temas e palestrantes:

04/11/2014 - 14h00-17h00
Mesa Redonda 01: Antropologia e Fotografia 

Ed Viggiani (palestrante, USP)
Renata Castello Branco (palestrante)
Milton Guran (palestrante, UFF)
Sylvia Caiuby Novaes (coordenadora e debatedora, USP)
Local: Sala 8 FFLCH

05/11/2014 - 14h00-17h00
Mesa Redonda 2: Antropologia e Cinema

Alejandra Navarro (palestrante, CIESAS/Conacyt)
Marco Antônio Gonçalves (palestrante, UFRJ)
Ana Lucia Ferraz (palestrante, UFF)
Priscilla Ermel (palestrante, USP)
Rose Satiko Gitirana Hikiji (coordenadora, USP) 
Local: Sala 8/ FFLCH

06/11/2014 - 14h00-17h00
Mesa Redonda 3: Antropologia e Arte

Els Lagrou (palestrante, UFRJ)
Aristóteles Barcelos Neto (palestrante, University of East Anglia)
Ewelter Rocha (palestrante, UECE)
Pedro Niemeyer Cesarino (debatedor, USP)
Vitor Grunvald (coordenador, USP)
Local: Sala 110 /FFLCH
 
07/11/2014 - 10h00-13h00
Mesa Redonda 4: Antropologia e Outras Linguagens

Ana Luiza Rocha (palestrante, FEEVALE UFRGS)
Sergio Bairon (palestrante, USP)
Rafael Devos (palestrante, UFSC)
Henrique Parra (debatedor, UNIFESP) 
Paula Morgado (coordenadora, USP)
Local: Sala 8/FFLCH

Resumos Mesas Redondas

Mesa Redonda 01: Antropologia e Fotografia 
04/11/2014 - 14h00-17h00


Ao Bom Retiro
Ed Viggiani Jr.

Em minha pesquisa de mestrado busco identificar e compreender as difusas fronteiras entre as distintas etnias e nacionalidades presentes no bairro do Bom Retiro, zona central de São Paulo.Trata-se de uma abordagem multidisciplinar conjuntamente com a fotografia enquanto método de pesquisa e meio de informação e expressão. O bairro é uma porta de entrada das mais diferentes origens e o mais cosmopolita de São Paulo. A apresentação proposta aqui se refere ao ensaio fotográfico “Ao Bom Retiro”, sobre o bairro do Bom Retiro, zona central de São Paulo. O lugar é singular na dinâmica do desenvolvimento das relações sociais estabelecidas a partir do movimento global e é o mais cosmopolita de São Paulo. O bairro do final do século XIX e ao longo do século XX foi composto por imigrantes italianos, portugueses e espanhóis, depois vieram judeus de diferentes lugares, gregos e em seguida coreanos e sul-americanos; especialmente os bolivianos, paraguaios e peruanos, além de cipriotas, armênios e migrantes nordestinos, entre outras origens. O Bom Retiro do século XXI tornou- se um bairro com intensa atividade econômica, comércio de roupas, pequenas fábricas e serviços, espaço de moradia e trabalho e continua sendo uma porta de entrada do Brasil para as mais diferentes etnias e nacionalidades. Os diferentes grupos procuram reiterar as suas identidades culturais e um rico universo surge nas tramas entrelaçadas deste tecido social. O ensaio fotográfico, todo composto em preto e branco, procura mostrar as difusas fronteiras e as identidades construídas pela diversidade cultural.



Diário fotográfico das Comunidades da Serra do Mar
Renata Amazonas Castello Branco

Trata-se de um trabalho fotográfico autoral realizado nas Comunidades da Serra do Mar em São Paulo, que se formaram a partir da construção da estrada  Anchieta no final da década de 30. Desenvolvi meu trabalho em 3 comunidades (Cota 95/ 200/ 400). Estas comunidades estão sendo transferidas pelo Governo do Estado para condomínios residenciais em Cubatão, seja por se encontrarem em zona de risco, por estarem poluindo mananciais ou por estarem dentro da Mata Atlântica. Meu projeto foi fotografar estas famílias pouco antes da transposição e visita-las meses depois em suas novas moradias.  Não é um registro jornalístico, nem antropológico, trata-se de um ensaio fotográfico de autor, que tenta se aproximar um pouco através destas imagens, da alma das pessoas destas comunidades.


História Oral e descrição visual densa no Projeto Nordestes Emergentes
Milton Guran

Nesta comunicação, tratamos das  práticas de pesquisa de campo e de documentação fotográfica desenvolvidas no âmbito do projeto Nordestes Emergentes, realizado pela Fundação Joaquim Nabuco em 2013, e coordenado pelo autor  e pela antropóloga Ciema Melo. Neste projeto se implementou uma modalidade de trabalho intitulada “descrição visual  densa”, concebida para dar conta das especificidades desse projeto. Calcada no conceito de descrição densa proposto por Clifford Geertz e nas práticas de campo da história oral, a “descrição visual densa” se constitui em um trabalho de equipe levado a efeito por um fotógrafo documentarista e por um pesquisador que se encarrega de contextualizar o tema  enfocado pelo fotógrafo a partir de sua própria observação e de entrevistas feitas com a metodologia da história oral com os principais personagens  fotografados.



Mesa Redonda 2: Antropologia e Cinema
05/11/2014 - 14h00-17h00


O filme etnográfico e a cartografia da moradia popular em Niterói/Rio de Janeiro
Ana Lúcia Ferraz (UFF)
 
Essa cartografia em filme enquadra as soluções de moradia popular adotadas por personagens que habitam as ruas e morros em Niterói, Rio de Janeiro/Brasil. Apresento aqui a centralidade das redes de sociabilidade elaboradas na produção de estratégias de ocupação do tecido urbano. Notamos a dificuldade de narrar a experiência vivida em trajetórias de sujeitos marcados por sua posição social. Que impactos esse fato gera sobre as abordagens e as formas da etnografia para ser capaz de lidar com as linguagens dos homens e mulheres que experimentam e nomeiam o mundo em que vivem?


A luta cucapá pela sobrevivência
Alejandra Navarro Smith (CIESAS/Conacyt)
 
Um grupo  de Cucapás, organizados na Sociedad Cooperativa Pueblo Indígena Cucapá, defendem o  direito de pescar em seu território original. Em 1993, a pesca tornou-se "ilegal", quando a zona de seus acampamentos e área de pesca foi decretada núcleo da Reserva de la Biosfera del Alto Golfo y Delta del Río Colorado. As autoridades justificam esta proibição porque a superexploração poderia pôr em perigo espécies endêmicas. Neste contexto, surge este projeto de colaboração, em que o vídeo é usado como uma ferramenta para produzir conhecimento etnográfico, legal e biológico sobre as práticas de pesca dos Cucapás e as políticas públicas que afetam este povo indígena. Aqui, se analisa o papel do vídeo nas mãos dos Cucapás e da antropóloga, bem como no desenvolvimento de uma relação de colaboração na construção do conhecimento para o presente projeto pelo qual os Cucapás buscam fortalecer suas lutas.


Quem tem medo de cinema? (ou a experiência de “Das nuvens pra baixo”)
Marco Antonio Gonçalves (UFRJ) e Eliska Altmann (UFRRJ)

Este texto se originou de uma dupla inserção, a de realizadores do longa metragem “Das nuvens pra baixo” (2014) e a de pensadores inseridos no campo de reflexão sobre o que é designado o visual na antropologia. Auto-reflexão (sobre o campo disciplinar e sobre noções encerradas de filme etnográfico) nos parece ser a palavra-chave do processo de estruturação deste texto. Portanto, o texto é uma reflexão sobre o binômio  filme etnográfico que conecta de múltiplas formas, mas não por isso menos contraditoriamente, as relações entre cinema e antropologia. O texto procura discutir conceitualmente o estatuto da imagem cinematográfica e sua apropriação pela antropologia. Seguimos o percurso de uma  passagem datécnica à episteme que se rebate no modo como se faz e se concebe as imagens e o mundo.  A partir deste regime de apropriação da imagem propõe-se uma síntese entre técnicae episteme expressa pelo conceito de indexicalidade que condensa de uma só vez as imagens do mundo e o mundo enquanto imagem.


A Máscara e o Filme
Priscilla Ermel (USP)

Nesta comunicação, refletimos sobre o processo criativo de elaboração de um filme etnográfico que versa sobre outro processo criativo: a construção das máscaras caiçaras, dos bonecões, que passeiam e povoam a cidade de Paraty, RJ, revelando e encobrindo as pessoas que representam. Estes dois processos criativos conversam entre si, e também versam sobre si e sobre o outro que constroem em suas obras. Assim, discutimos o filme etnográfico pelo viés da máscara, do que ele encobre ao revelar, e o que ele revela ao encobrir, tendo como elemento central da pesquisa etnográfica o fazer e o viver artístico do criador caiçara Zé Luis (Biba), responsável por inúmeros personagens bonecões que mantém viva a rede, cheia de nós cegos, da trama social destes pescadores de histórias e de saberes outros que alimentem a insaciável sede do ser artista em seu instável e cíclico movimento de marés.


Mesa Redonda 3: Antropologia e Arte
06/11/2014 - 14h00-17h00 

Quimeras: O poder das imagens ambíguas
Els Lagrou, PPGSA, IFCS, UFRJ

“A alma só surge quando o corpo está ausente”. Esta frase remete ao profundo parentesco entre os conceitos para alma e imagem, não somente para os ameríndios, mas aparentemente para muitos povos e também para os historiadores e antropólogos da imagem. Podemos encontrar uma clara associação entre alma e imagem no pensamento de um dos fundadores da história da arte moderna, Aby Warburg, pensador que durante toda sua vida tentou entender o que é e de onde vem o poder da imagem de comover as pessoas. A imagem sempre será a presentificação de algo que está ausente, deste modo a imagem é um fenômeno relacional a estabelecer pontes entre os visível e o invisível.  Procuro explorar esta ideia a partir do conceito de quimera enquanto imagem essencialmente ambígua em diferentes contextos etnográficos entre os quais é possível estabelecer “partial connections”: me interesso particularmente por imagens que 'sugerem mais do que mostram' tanto no universo indígena, quanto no universo da arte popular e nos primeiros experimentos com imagens ambíguas de artistas modernistas que foram procurar em outras culturas sua fonte de inspiração.


Atujuwa e outros objetos perigosos: arte wauja em novas zonas de contato cosmopolítico
Aristoteles Barcelos Neto

Em três diferentes ocasiões, julho de 1997, julho de 2000 e março de 2005, os índios Wauja do Alto Xingu, Mato Grosso, produziram rituais de máscaras de atujuwa, as quais foram vendidas para um colecionador desconhecido (1997) e para o Museu Nacional de Etnologia de Portugal (2000) e o Museu do quai Branly de Paris (2005).  A máscara atujuwa permite dar corpo a uma série de espíritos xâmanico-patogênicos do cosmos wauja. Considerado o mais perigoso de todos os corpos-máscaras (apapaatai onai) devido ao seu imenso poder letal, os Wauja realizam o ritual de atujuwa com muitíssima cautela e apenas quando os altos custos do ritual podem ser corretamente cobertos. Com a possibilidade de venda das máscaras para colecionadores e museus, atujuwa foi inserido em uma nova zona de contato cosmopolítico, no qual o controle da natureza patogênica das máscaras passa a ser de responsabilidade dos sujeitos que as adquiriram. Esse trabalho aborda os sentidos simbólicos e os potencias curatoriais que emergem desses contatos, em especial em relação aos possíveis modos de visualização do perspectivismo e multinaturalismo ameríndio. 


Beata, uma santa que não sorri
Ewelter Rocha

A partir da enunciação de uma questão religiosa que impede alguns devotos de expressarem verbalmente a sua confissão devocional, mostramos como o acompanhamento do processo de fabricação de esculturas que retratam mulheres idosas constituiu-se num poderoso dispositivo etnográfico para suprir a ausência da fala nativa. Iluminados pelo pensamento de Hal Foster, que provoca pensar o artista como etnógrafo, encomendamos a seis escultores do município de Juazeiro do Norte – CE uma escultura que retratasse uma “beata”. Durante a elaboração da obra, discutíamos com os artistas os artifícios a que recorriam para a concepção de um corpo de beata, uma corporeidade ambígua, que conjuga prerrogativas de uma vida de santidade e as tribulações de uma vida mundana. Foi pelo manuseio criativo dessa ambivalência que os artistas infligiram na forma religiosa das esculturas uma biografia de mulher do mundo, recurso capaz de conectar um corpo humano de madeira a um corpo sagrado de santa, conformando, assim, a efígie altiva e penitente de uma beata.
 

Mesa Redonda 4: Antropologia e Outras Linguagens
07/11/2014 - 10h00-13h00

Relação dialógica entre Comunidades indígenas e Universidade na Produção Partilhada do Conhecimento
Sergio Bairon (ECA/USP)

A exposição explorará as características da convivência junto de comunidades indígenas (xavantes e bororos) nos últimos 5 anos. Foram desenvolvidas tanto estratégias de convivência, entre Comunidades e Universidade, quanto à produção partilhada do conhecimento, que resultaram em produtos revertidos em cultura imaterial às comunidades. Serão apresentados os pressupostos teórico-filosóficos destas atividades, bem como alguns exemplos práticos na forma de filmes e hipermídia.


Ritmos, panoramas e percepções ambientais da pesca da tainha em Florianópolis, SC
Rafael Victorino Devos (com Viviane Vedana e Gabriel Coutinho Barbosa,UFSC)

Este é um projeto em parceria com os colegas Gabriel Coutinho Barbosa (UFSC) e Viviane Vedana (UFSC) voltado para os saberes, fazeres e interações envolvidos na prática da vigia de cardumes durante a temporada de pesca da tainha com rede de cerco, em Florianópolis. Pontas, praias, sacos, rochedos e outros lugares atualizam seus topônimos na prática desses habitantes, que reservam suas férias para viverem nos meses de frio outra temporalidade da paisagem. Focando a pesquisa em uma prática pontual – aquilo que o vigia precisa saber e fazer durante a pesca de cerco – o objetivo do trabalho é a revelação das sequências de gestos e relações articulados nesta pesca para a percepção e produção da paisagem costeira. O desafio da pesquisa é incorporar à produção de imagens a percepção ambiental em que o corpo em interação com o ambiente desloca a atenção da pesquisa das representações sociais para as práticas que refazem ao mesmo tempo sujeitos e ambientes, corpos de humanos e não-humanos, coletivos de pessoas, peixes, artefatos, ventos, marés e costões. Através de fotos panorâmicas combinadas com narrativas audiovisuais e sequências fotográficas, o projeto investe em exposições itinerantes e hipermídia para provocar o leitor/expectador a “olhar ao redor” e “ver peixe”, ampliando habilidades perceptuais na costa oceânica da cidade de Florianópolis. 


Antropologia em outras linguagens: as estruturas constelares e a escrita de uma  etnografia da duração 
Ana Luiza Rocha (FEEVALE, UFRGS)

O trabalho apresenta a pesquisa antropológica com coleções etnográficas, no formato de acervos digitais multimídia, para o estudo das dinâmicas da cultura no mundo urbano contemporâneo que o Banco de Imagens e Efeitos Visuais/PPGAS/UFRGS vem realizando há mais de 15 anos. O Biev é um grupo de pesquisa que atua na produção audiovisual na área da Antropologia Social e tem se dedicado, mais recentemente, aos usos das novas tecnologias para os estudos sobre a preservação das culturas no mundo contemporâneo. A partir de experiências com as políticas de acesso e de preservação de acervos digitais nas redes eletrônicas e digitais, o trabalho discute os conceitos centrais de  coleções e de constelações como centrais para o estudo da cultura digital assim como de suas formas de distribuição do conhecimento como parte integrante do processo de produção da representação etnográfica nas modernas sociedades complexas. Aborda-se algumas reflexões sobre a relevância da Antropologia em hipertextos e a gestão eletrônica de documentos em ambiente multimídia para a realização de uma etnografia da duração uma vez que ambas permitem ao antropólogo, ao mesmo tempo, compreender a sinuosidade do real presente na superfície da representação etnográfica quanto permite interpretar a gama de suas durações que atuam na consolidação do pensamento antropológico quando confrontado ao mundo dos fatos sociais.